01 April 1998

Aristides Sousa Mendes

Aristides Sousa Mendes, nasceu aqui, em Cabanas de Viriato a 19 de Julho de 1885, filho de uma família de aristocratas monárquicos.
Fornou-se em Direito e, após uma breve passagem pelo ensino, entrou para a política pela mão do Conde de Águeda.
Então segue-se um deambular por várias embaixadas deste mundo até que em 1938 é nomeado Cônsul e se fixa em Bordéus.
Em 1940 e já com 55 anos assiste à invasão da França pelas tropas hitlerianas, é neste preciso momento que Aristides Sousa Mendes tem a sua grande prova de fogo como político: o salvamento de vidas humanas condenadas aos fornos crematórios de Auschwitz, ou ir contra as ordens de Salazar.
Mas o seu bom senso e também um coração "tamanho do mundo" decide a favor da vida, apesar de nesse momento ter arruinado a sua carreira e o bem estar da sua enorme família.
Hoje que são passados 50 anos após o fim da guerra, quantos portugueses sabem quem foi este homem ? Poucos, talvez muito poucos. Foi preciso aparecer o filme de Steven Spielberg "A Lista de Schindler", para na nossa condição de eternos envergonhados começarmos a ler e falar de Aristides Sousa Mendes, Sampayo Garrido e Carlos Branquinho. Oskar Schindler salvou centenas de pessoas da morte. E estes portugueses quantos salvaram ? Uns milhares seguramente.
Que publicidade aos seus nomes fizemos ? Nenhuma...
É certo que não temos o poderio cinematográfico de uma América, mas deixamos cair assim os nomes destes homens, não.
As actrizes Zas Zas Gabor, Eva Gabor e Família Real Luxemburguesa entre outros notáveis devem as suas vidas a estes portugueses.
Nós como retribuíção deixamos Aristides Sousa Mendes morrer numa qualquer cama de um qualquer hospital de 3ª ou 4ª categoria e em plena miséria. E como se isso não bastasse deixámos transformar a sua casa em galinheiro ou melhor em hotel de 5 estrelas para galinhas. Ao que se chega, uma mansão senhoril transformada em hotel de galinhas.
Neste virar do milénio não será altura de repôr um pouco de verdade nos factos?
Não será também a altura da autarquia chamar a si a responsabilidade de transformar o galinheiro num museu ao Holocausto como sugeriu o Dr. Mário Soares ?
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de Alfredo J. Feio Peralta
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em CABANAS DE VIRIATO

04 February 1998

Busto Eterniza Figura de Aristides de Sousa Mendes



A Câmara Municipal de Carregal do Sal e a Direcção Municipal de Monumentos Nacionais vão unir esforços no sentido de prestar a homenagem que falta a Aristides de Sousa Mendes - o diplomata português que salvou dezenas de milhar de judeus do holocausto nazi durante a II Guerra Mundial -, através da colocação de um busto do diplomata em Cabanas de Viritato, na sua terra natal.
Referindo-se ao "Oscar Schindler português", o presidente da autarquia, Atílio dos Santos Nunes, refere que " é uma pena que este ilustre filho de Cabanas já tenha sido homenageado em França, Israel e Estados Unidos e não na sua terra natal ".
Decidido que está o destino a dar ao degradado palacete de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato ( onde ainda escondeu e ajudou algumas dezenas de judeus ) e que vai ser transformado num moderno hotel, Atílio dos Santos Nunes refere que a excelente colaboração e receptividade dada pela Direcção Geral dos Monumentos Nacionais à ideia de colocar um busto do diplomata "irá compensar as décadas de esquecimento a que Aristides de Sousa Mendes foi votado, repondo uma justiça que tarda".
Aristides de Sousa Mendes nasceu a 19 de Julho de 1885 em Cabanas de Viriato, no seio de uma família de aristocratas "marranos", isto é, "cristãos novos", tendo-se licenciado em Direito em 1910 na Universidade de Coimbra, exercendo, a partir daí, a carreira de professor até 1938, ano em que seria nomeado cônsul em Bordéus, funções que manteve até Julho de 1940.
Um ano depois de ter chegado a Bordéus começava a II Guerra Mundial com a invasão alemã da Polónia, ao que se seguiriam os Países Baixos e a França, provocando uma autêntica avalhancha de europeus ( especialmente judeus ) que procuravam escapar ao jugo nazi, pretendendo a todo o custo um refúgio seguro nos países "neutrais", entre eles Portugal, o que se encontrava mais afastado da Alemanha.
Logo após a invasão da Polónia, Aristides de Sousa Mendes pediu autorização a Lisboa para conceder vistos a quem procurasse refúgio em Portugal e, como resposta, recebeu a célebre Circular nº 14 do Ministério dos Negócios Estrangeiros, determinando que "as delegações diplomáticas portuguesas só podem emitir vistos a quem for portador de uma passagem válida para navios a sair de Lisboa, não devendo, em caso algum, ser emitidos vistos a russos, checos, húngaros e, em nenhuma circunstância, a judeus".
Vistos em papel de embrulho
Após a invasão de França ( Maio de 1940 ), Aristides de Sousa Mendes, ignorando por completo a Circular nº 14, começou a emitir vistos aos milhares de refugiados que acampavam junto ao Consulado Português de Bordéus. Em apenas três dias ( 16 a 18 de Junho de 1940 ) e auxiliado pelos filhos, o diplomata emitiu mais de 30 mil "vistos de trânsito", 12 mil dos quais destinados a judeus.
Ao cabo de alguns dias de trabalho árduo e quando os impressos esgotaram, o cônsul de Portugal começou a emitir os vistos em simples papel de carta e, mais tarde, em qualquer pedaço de papel com a dimensão suficiente para levar o carimbo do Consulado e a assinatura de Sousa Mendes. O diplomata chegou mesmo a carimbar e assinar pequenos pedaços de papel pardo de embrulho, cortados à pressa.
Chegado a Lisboa em Junho de 1940 ( por imposição de Salazar ), Aristides de Sousa Mendes foi imediatamente destituído do Corpo Diplomático e proibído de exercer a advocacia. Os benefícios e reforma a que tinha direito foram-lhe retirados. Para sobreviver foi obrigado a vender todas as suas propriedades e bens, acabando por morrer na miséria em 3 de Abril de 1954.
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Correio da Manhã